2013
objeto
(pó de café prensado, cimento branco, prateleira e áudio)
15 x 30 x 10 cm
Sobre uma prateleira próxima à janela encontram-se lado a lado dois copos descartáveis: um volume cheio feito de pó de café prensado, o outro de uma camada frágil de cimento branco. O pó de café é levado pouco a pouco pelo vento que eventualmente sopra da janela. A casca de cimento é descontínua e pode se desfazer ao toque. Junto à eles está um fone de ouvido onde se pode escutar uma descrição da gravura Melencolia I (1514) de Albrecht Dürer.
Enquanto contemplo o espaço, o tempo corre…
É aqui que ele me perturba.
Todas as ferramentas para apreender a matéria luminosa, estão lá, dispersas.
Encontram-se desarranjadas.
Deixadas, depois de serem excessivamente feitas e refeitas.
Nos encontramos em um momento posterior ao trabalho. Ainda está fresco o que resta de suor.
Vemos a mulher completamente vestida, sem que pele alguma esteja a mostra. Sobre a cabeça apoiada na mão esquerda, uma coroa de louro.
Seus cabelos claros e ondulados escorrem alcançando os ombros. Ela senta-se em desconforto na solidão, em algum ponto alto e distante, mas diante do mar.
Sua mão direita parece querer inutilmente rascunhar algo com o compasso que segura, enquanto o braço descansa sobre um livro fechado.
Ao seu pé está o cachorro magro que a acompanha. Deita-se ao seu lado, encolhido.
Cabeça contra patas.
Ele treme, preso no pesadelo que vive em sonho.
Ela pensa.
Seu olhar fixo e paciente denuncia o esforço feito para escapar do triunfo do tempo.
Apesar de sua aparente inação, ela encontra-se em plena atividade.
A melancolia que a toma coloca nós, observadores, à espera de um despertar repentino, como se dali surgissem respostas para dúvidas e incertezas que passam a ser também nossas.
Expectativa de uma súbita reconstrução, de uma outra tentativa.
Esta mulher, ainda jovem, me parece superior, não por causa das asas que carrega, grandes e pesadas, mas pela virtude da imaginação e inteligência.
Elas não lhe acrescentam nada, são antes sua condenação, feito anjo decaído. O peso de seu entorno a fixa e a separa de um reino.
Permanece então, na eterna atitude de repensar problemas, com a certeza de que não serão resolvidos.
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temporary solids II
2013
object
(pressed coffee powder, white cement, shelf and audio)
15 x 30 x 10 cm
On a shelf, there are two disposable cups, side by side: one of them is a full volume made with pressed coffee powder, the other one is made of a thin and fragile skin of white cement. The coffee powder is blown, bit by bit, by the wind which sometimes comes in through the window. The cement skin, on the other hand, is incomplete and can be destroyed by touch. Along with them there is a headphone, from which one can listen to a text which describes the engraving Melencolia I (1514), by Albrecht Dürer.
While contemplating space, time flies by…
It is here that the time disturbs me.
All the tools used for learning the luminous matter are there, all spread out.
They are untidy.
They were left after being excessively made and remade.
We find ourselves at a moment after work. What remains from the sweat is still fresh.
We see the woman completely dressed, no skin exposed. On top of her head, which rests against her left hand, there is a laurel wreath.
Her light and curly hair runs down reaching her shoulders. She seats unconfortable in solitude, somewhere high up and far away, but far from the sea.
Her right hand, which holds a compass, seems to be drafting an unnecessary movement, while her right arm rests on a closed book.
Under her feet, there is a skinny dog. It lies close to her, curled up.
Head against paws.
It shakes, trapped in the nightmare that it lives in dream.
She thinks.
Her fixed and patient glance condemns the effort employed in scaping from the triumph of time.
Despite her apparent inaction, she finds herself in plain activity.
The melancholy that consumes her leaves us, observers, waiting for a sudden awaking. As if from her situation could emerge answers for doubts and uncertainties that are now ours too.
Expectation of a sudden reconstruction, of another attempt.
This woman, still young, seems superior to me, not because of the big and heavy wings that she carries, but because of the virtues of imagination and intelligence.
These virtues do not add anything. They are after all her condemnation, like fallen angel. The weight of her surrounding holds her still and keeps her apart from a kingdom.
She stands so in the eternal attitude of rethinking problems, with the certainty that they will not be solved.