sem título (nuvem)2016-2023 A similaridade da pedra litográfica com o papel ou a tela – seja por sua lisura seja por sua sensibilidade aos mesmos materiais graxos tradicionais à pintura e ao desenho – faz com que a litografia seja comumente tratada, desde sua origem, em finais do século XVIII, como mero meio de reprodução, desconsiderando seus procedimentos técnicos como mecanismos plásticos intrínsecos. Por prescindir da incisão para a construção da imagem gravada, a litografia dispensava o desenvolvimento de gestos próprios que fossem análogos aos da representação pela linha e mancha. Isso permitiu que, ao longo do século XIX, a litografia fosse utilizada também como meio para a reprodução de fac-símiles de pinturas que, diminutas, serviriam a produção e circulação de portfólios de artistas e catálogos de exposições. Os simulacros poderiam ser executados diretamente sobre a pedra ou feitos em papeis de transferência pelos/as artistas. A fidedignidade da pintura litográfica à pintura original dependia do controle absoluto de todos os processos litográficos por um trabalhador emergido exclusivamente para este fim, o litógrafo; dependia, visto por outro ponto de vista, do completo apagamento deste ator e de qualquer resíduo de seu trabalho. Sem título (nuvem) propõe a inversão dessa tradição moderna, isso é, a produção de um objeto gráfico que dê a ver os procedimentos técnicos litográficos em si mesmo. Cada uma das 35 impressões que compõem a gradação de cinzas partiu de uma mesma matriz. Nela estava gravada, à lápis litográfico, o recobrimento total de sua superfície: um desenho uniforme e suficientemente delicado para revelar todo e qualquer erro existente ao longo das etapas da litografia, do nivelamento da pedra à saturação de seus poros. ……………………………………………………………. [untitled (clowd)] 2016-2023 The lithographic stone similarity to paper or canvas surface — whether due to its smoothness or its sensitivity to the same traditional oily materials used in painting and drawing—has led lithography to be commonly treated, since its origins in the late 18th century, as merely a means of reproduction, disregarding its technical procedures as intrinsic plastic mechanisms. By forgoing incision as procedure of the engraved image, lithography has not developed a repertory of gestures analogous to those of representation through line and stain. Throughout the 19th century, this allowed lithography to be used also as a means for reproducing paintings facsimiles which, in miniature, would serve the production and circulation of artist portfolios and exhibition catalogs. The simulacrum could be executed directly on the stone or made on transfer paper by the artists. The reliability of the lithographic painting on stone to the original on canvas depended on the absolute control of all lithographic processes by a worker dedicated solely to this purpose, the lithographer; it depended, from another perspective, on the complete erasure of this worker and any residue of its work. Sem título (nuvem) proposes an inversion of this modern tradition, which means the production of a graphic object that reveals the lithographic technical procedures within itself. Each one of the 35 prints, whose set makes up a gradation of grays, originates from the same matrix. Inscribed on it was the total covering of its surface with lithographic pencil: a uniform drawing delicate enough to reveal any existing errors throughout the stages of lithography, from leveling the stone to saturating its pores.
|